segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A moeda

"Repara bem. A vida olhada como uma moeda. Nada de mais redondo, conclusivo, perfeito. Simétrico.
Olha pois. Amacia-a entre os dedos, sente-lhe o peso, avalia as possibilidades.
Escolhe uma face ou deixa que uma face te escolha.

Olha pois. E de um lado tens."

in "A casa quieta", Rodrigues Guedes de Carvalho

E cai com estrondo a moeda na mesa. Gira sobre si própria. Rebola para longe. Vai mostrando ora uma face ora outra. Mais uma vez gira sobre si própria. Anda mais um pouco. Rebola. Uma face. A outra. E eis que nem uma nem outra. Fica a moeda erguida de lado.
Mas ainda balança! Talvez caía para um lado. Ou talvez para o outro. Não. Perde-se o balanço. Mantém-se erguida de lado a moeda imóvel. Nem dá para perceber assim que valor tem. A moeda sou eu.

sábado, 10 de outubro de 2009



Spend all your time waiting
for that second chance
for a break that would make it okay
there's always some reason
to feel not good enough
and it's hard at the end of the day
I need some distraction
oh beautiful release
memories seep from my veins
let me be empty
oh and weightless and maybe
I'll find some peace tonight

In the arms of the angel
fly away from here
from this dark cold hotel room
and the endlessness that you fear
you are pulled from the wreckage
of your silent reverie
you're in the arms of the angel
may you find some comfort here

So tired of the straight line
and everywhere you turn
there's vultures and thieves at your back
and the storm keeps on twisting
you keep on building the lines
that you make up for all that you lack
it doesn't make no difference
escaping one last time
it's easier to believe in this sweet madness oh
this glorious sadness that brings me to my knees

In the arms of the angel
fly away from here
from this dark cold hotel room
and the endlessness that you fear
you are pulled from the wreckage
of your silent reverie
you're in the arms of the angel
may you find some comfort here
you're in the arms of the angel
may you find some comfort here

Acho que esta música está agora sempre a passar em todas as rádios. Não gosto dessas músicas, tornam-se banais ao perderem a sua magia no ouvido de toda a gente e nos comentários do youtube. Por isso, esta noite sou dona de uma música...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Lápis de bico partido

Não me falta o que dizer. Falta-me o como. A indefinição chega a este extremo. Raramente digo o que não quero, escolho é formas erradas de o dizer. Erros de expressão. Agora contagiam também aquilo que escrevo. Ou tento escrever. Meias frases com um risco em cima não contam.
Também não me consigo encontrar nas frases dos outros. Amontoam-se pelo quarto livros marcados com passagens que podiam ser minhas (mas não são que não tenho talento para isso). E em nenhuma delas me consigo rever agora...
Suspiro fundo como se pudesse expulsar toda esta indefinição de mim. Acabo de riscar o papel, deixo cair o lápis de bico partido. Agora deu-me para querer não pensar. Passei à fase do "Há coisas que não posso mudar, logo, não vale a pena pensar nisso".
Fiz a escolha mais importante da minha vida apesar de ninguém ter dado por isso. Eu dou pelo preço todos os dias. Foi a minha escolha. Não vale pensar mais nisso.
O mundo é injusto, sim. Mas um dia podia decidir ser injusto a meu valor, sim. E oiço, todos os dias, pessoas queixarem-se da sorte que eu invejo para mim, sim. Não vale a pena pensar nisso.

E depois há pessoas que, um dia, simplesmente, desaparecem na nossa vida por razões que nunca vamos chegar a compreender por muito que tentemos (e eu tento). Aceita-se. Grandes amizades não se imploram (e acho que as pequenas também não). Não vale a pensar mais nisso.
Às vezes, o "Não vale a pena pensar mais nisso." é uma forma de sobrevivência, não de birra.
Inspiro. Expiro. E não quero saber se vivo ou existo.
(Lá está, não penso nisso.)