terça-feira, 25 de novembro de 2008

O efeito borboleta, de John R. Leonetti

(Sei que se algum cinefólio ou critico de cinema ou simplesmente alguém que não gostou deste filme vir nem que seja o titulo deste post vai revirar os olhos, abanar com a cabeça e pensar que sou alguma fã doida do Ashton Kutcher mas paciência… )


Change one thing. Change everything.

Se já fosse muito velhinha, diria que “O efeito borboleta” era um dos filmes da minha vida, não porque seja uma grande produção cinematográfica porque não é, mas sim por aquilo que lhe está inerente. Gosto de filmes… assim. Os filmes que me dizem tanto em todos os sentidos que por mais que escreva, apague, reescreva nunca consigo descrever em palavras quão bom é o filme e acabo a pensar que, de facto, não sou boa com as palavras. Os filmes que têm uma verdadeira mensagem. E, neste caso tem, finalmente, uma teoria que aceito: a teoria do caos. A teoria que tudo explica precisamente por não querer explicar nada em geral, por não querer quantificar nada, por não querer reduzir tudo a verdades definitivas, gerais, absolutas. E mesmo quando esta teoria é aplicada na Física, o máximo que consegue fazer é quantificar a incerteza. Não há verdades feitas, coisas que “são assim e pronto”. Tal como na vida.
A história do filme gira, então, em torno de um rapaz, Evan Treborn (Ashton Kutcher), com a capacidade de alterar o passado e que decide por isso em prática para poder “corrigir” determinados momentos do seu passado, dos seus amigos, da rapariga de quem gosta. Só que descobre que fazendo essas pequenas “correcções” altera drasticamente a sua vida e a de todos o que o rodeiam e nem sempre para “melhor” o que o leva a querer fazer cada vez mais alterações num ciclo sem fim.
A teoria do caos é isso mesmo. O Destino de cada um está traçado de facto. Mas é pelas pequenas escolhas que tomamos todos os dias sem nos apercebermos, sem sequer pensarmos que estamos a construir o rumo da nossa vida e não só, inconscientemente, com todas as pessoas que dela fazem parte, com todos os lugares, com todas sensações que podiam ser estas mas também outras no caos de possibilidades dados pelos nossos sentidos e percepções. ..
E algumas dessas possibilidades estão exploradas neste filme em relação a uma simples situação que é uma brincadeira de miúdos. É um filme que, quanto a mim, conseguiu não deixar escapar os pequenos grandes pormenores, fazer uma grande caracterização das personagens nas diferentes possibilidades de vida e onde tudo, no final, acaba incrivelmente por bater tudo certo. Mas não digo que este filme seja a melhor produção cinematográfica de sempre (para mim esse lugar continua a ser ocupado pelo "The Fountain" de Darren Aronofsky) porque está muito longe disso, principalmente pela forma como foi apresentado ao público (razão pela qual não ponho aqui o trailler que odeio) e pela ideia que deixa transparecer ao primeiro contacto.
Tal como na teoria do caos. Confusa, idiota, inútil pode ser uma teoria que não explicar nada mas também pode ser verdadeira e universal precisamente porque dá conta que nada pode ser completamente explicado, definido, calculado, determinado…

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Tudo (errado)certo


Nunca fui muito de fazer desenhos. Sempre preferi escrever e ver nos desenhos dos outros aquilo que gostava de conseguir expressar se tivesse arte suficiente para isso. Mas também não se pode chamar à figura acima um desenho...
Foi simplesmente algo que me deu uma vontade enorme de fazer num intervalo para a hora de almoço. Num daqueles dias em que disse "bom-dia" tal como todos os outros, sorri tal como todos os outros, contei piadas tal como todos os outros, ouvi piadas tal como todos outros, suspirei pelas quantidades industriais de matéria tal como todos os outros.
Mas num daqueles dias em que está tudo errado. Em que dizemos "bom-dia" por dizer, sorrimos por sorrir, contamos piadas por contar, ouvimos piadas por ouvir, suspiramos por suspirar. Não há é ninguém para ver o que está errado tal como não há ninguém para ver o que está certo. E, assim, acaba tudo em dias de (errado)certo e dúvida...
Este desenho é, então, o ténue reflexo de uma semana em que tal como Álvaro de Campos dizia:

"Sim, está tudo certo.
Está tudo perfeitamente certo.
O pior é que está tudo errado."

(...)

Mas, está claro, está tudo certo...
E, excepto estar errado, é assim mesmo, está certo..."

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Um artigo cómico (ou talvez não)...

“O site scientificmatch.com funciona com base na teoria de que as pessoas se sentem atraídas pelo cheiro de companheiros com um sistema imunológico o mais diferente possível do seu – e que essa informação e determinação pode ser feita através dos genes. Assim, depois de realizada a análise do DNA, os especialistas comparam os seus dados com os de outras pessoas existentes na base de dados para encontrar um sistema imunológico compatível. Ao analisar os sistemas imunológicos dos candidatos, os representantes do site asseguram que conseguem formar casais perfeitos, menos tentados para a possibilidade de traição e capazes de terem filhos mais felizes e saudáveis.”

In revista-qualquer-do-bar-da-faculdade-que-me-dei-ao-trabalho-de-copiar

Sorrisos. Gargalhadas. Piadas. Revirar de olhos. Tudo isto este artigo provocou a apaixonados e não apaixonados de um curso com uma cadeira de Genética onde aprendemos, logo na primeira aula, que chimpanzés e seres humanos partilham 99% do seu património genético.

Mas este artigo não é sobre chimpanzés… E acho que, entre as gargalhadas que enchem a mesa, todos nós nos perguntamos se acreditamos na definição de amor deste artigo ou não. O tal fenómeno mágico (que, afinal, segundo este artigo de mágico tem pouco…) que toda a gente quer viver.

Mas talvez a resposta a pergunta da praxe “Acreditas?” só dependa do grau de romantismo de cada um. Eu não sei. Não quero saber. Tal como os apaixonados que são os que se mais riem com este artigo, a origem do amor não me interessa. O facto de os americanos fazerem negócio com tudo também não. Interessa-me apenas aquilo que não consigo ver ou aperceber-me e que tendo à partida desprezar ou a rir. Como o facto de sermos ainda menos livres na escolha das pessoas de quem gostamos. Treta ou não, não deixo de acreditar, por segundos, quando as gargalhadas cessam por fim, que, tal como F.P. dizia, talvez:

“Isto é quem somos, e é tudo!”

(Ou não… Tu sabes? Eu não…)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Realidades

Esta imagem podia descrever alguns dos meus dias. Dias como o de hoje. Um remoinho de sentimentos que ainda não sei definir, uma multidão de pessoas que me podem dizer tudo e, por isso, ainda nada me dizem. É um remoinho ainda formado de muitos feixes com muitas cores de diferentes realidades. Mas talvez as cores pudessem ser diferentes. Não o azul, não o violeta, não o cinzento, não o preto. Talvez o cor-de-laranja, o encarnado, o branco. Mas são exactamente estas cores com que hoje eu pintei os outros à minha volta tal como aquele círculo de feixes luminosos. Aquele azul metálico lembra-me o lume frenético das conversas do refeitório. Aquelas conversas que começam não se sabe de onde nem porquê, que podem ser sobre coisas banais como o prato preferido de cada um ou os gostos musicais ou sobre a próxima festa não sei aonde. Conversas em que toda a gente quer falar ao mesmo tempo e se dar a conhecer para depois terminarem num repentino silêncio quando não há absolutamente mais nada a dizer mas muito ainda por conhecer...
Aquele amarelo mais vivo lembra-me a alegria contagiante de alguns. Aqueles que têm sempre algo a dizer e que toda a gente parece conhecer. O amarelo mais pálido a energia com que tento conhecer toda a gente, decorar os nomes, começar conversas com a esperança (o amarelo mistura-se também com o verde na imagem…) de encontrar nem sei bem o quê. Um grupo estável de amigos se é que isso ainda faz sentido aqui. Mas mesmo que fizesse… (não, quando talvez o que eu mais procuro nos outros é encontrar-me a mim própria...)
Daí tanta cor indefinida nesta imagem do meu dia, de mim própria. Existem tantos tons de violeta nesta imagem… Tantas realidades de mim própria. O violeta. Aquela cor que uns dizem que é cor-de-rosa escuro, outros lilás, outros roxo e outros coisa nenhuma. Tal como a opinião inconsciente dos Outros sobre mim própria talvez. E a minha também. Porque entre o amarelo, o verde, o violeta e todas as outras cores por definir na imagem existem também borrões pretos. São os momentos das saudades, os borrões coloridos de um passado recente pintado a cinzento. São os momentos em que me apago. Em que não consigo captar nada do que me rodeia. Em que não sinto os Outros nem lhes vejo as cores com a indefinição das minhas próprias cores. Em que deixo simplesmente de sentir e me perco a mim própria por não saber quem sou: Eu. Eu própria. Sem as cores dos Outros e as cores (ou falta delas) com que pintam… Sem saber qual a minha cor. Sem saber qual é a minha realidade...


E eis que todas as cores se voltam a misturar outra vez para formar outra realidade…Mas, desta vez, organizam-se para formar uma realidade concreta e objectiva e a mesma que o professor de Histologia entoa com uma voz que se vai tornando cada vez mais próxima. Uma realidade em que esta imagem já não é a imagem do meu dia ou de mim própria. Uma realidade em que esta imagem é apenas o que está escrito na legenda abaixo:

“Corte de um sistema de Havers ou ósteon. Notar a alternância de círculos claros e escuros resultantes da alternância na direcção das fibras colagénias. As fibras colagénias aparecem claras quando cortadas longitudalmente e escuras em corte transversal. No centro do ósteon, a violeta, o canal de Havers. Pricosirius. Foto de microscopia de luz polarizada.“