domingo, 27 de julho de 2008

Top 5 "As frases mais cruéis de sempre" - nº2



“Aprendes que não importa o quanto tu te importas simplesmente porque algumas pessoas não se importam.” (Shakespeare)

Sabem o que é mais cruel que o desprezo de alguém? Eu digo-vos: a sua indiferença. Há muito, muito ,muito tempo (há um ano) eu costumava acreditar que todas as pessoas que conhecíamos na vida deixavam uma espécie de marca dentro de nós. E nós também deixávamos uma marca dentro das pessoas que íamos conhecendo. E que por muitos e muitos anos que passámos sem ver as pessoas que marcávamos, elas se lembravam de algo sobre nós. Mesmo que fosse a coisa mais insignificante do mundo. O nosso sorriso, uma camisola nossa que invejavam, as músicas que gostávamos mais de cantar no sing star, a nossa equipa de futebol… Ou até uma discussão por causa de um trabalho de grupo, uma mentira, uma injustiça, um erro que cometemos em relação a essa pessoa ou ela em relação em nós próprios. Acreditava eu que todos tínhamos dentro de nós uma marca, “boa” ou “má”, de todas as pessoas que já tínhamos encontrado na nossa vida, conhecido de alguma maneira. Uma marca das pessoas que nos tocavam independentemente da insignificância do motivo. Se é que há um motivo específico e determinado para as pessoas se tocarem umas às outras…

Mas há pessoas que nunca conseguimos tocar. Há pessoas que nunca conseguimos que nos vejam. Mesmo que estejamos com elas todas os dias. Mesmo que tenhamos uma história em comum. Mesmo que dêmos o melhor de nós próprios. Há pessoas para as quais nunca ficamos nem passamos. Somos apenas uma mera ilusão do tempo, da vida. Uma sombra desaparecida para sempre pelos raios de sol. Só que o pior não é isto. O pior é que o facto de não conseguirmos tocar uma pessoa faz com que ela nos toque como que para sempre e de uma maneira que não queremos. Sim, porque mesmo não querendo, mesmo parecendo um completo absurdo, essa pessoa acaba por ser importante para nós. Nem que seja porque não queríamos nada que assim fosse...É tão injusto… Tão cruel cada segundo que passamos a pensar nessa pessoa (mesmo que seja “Só quero que ele(a) vá arder no inferno!”), enquanto que, precisamente nesse segundo, ela está a pensar noutra coisa completamente diferente e seguramente mais útil. Mas é como Fernando Pessoa dizia “Morrer é apenas não ser visto.”. E não tocar alguém que nos tocou mesmo que pelo pior motivo do mundo é não nascer nessa pessoa e essa pessoa nascer em nós próprios. Mas o que fazer com a marca dessa pessoa? Com a importância que estamos a dar a algo que mais ninguém dá? Mesmo que os outros estejam errados e nós certos… O que fazer com as memórias boas de uma marca má? O mesmo que às memórias más? Apagá-las simplesmente? Deitá-las para o lixo? Matá-las? Fazer aquilo que essa pessoa que nos marcou fez? Sermos bestas como ela? Mas ela afinal não é uma besta feliz? Não torna mais úteis todos os segundos da sua vida ao não dar importância ao que devia dar?

Mas o mais cruel não é ver feliz essa pessoa que não dá importância ao que supostamente deveria ser-lhe importante. O pior é que nós que, pelo contrário, nos importamos, tornamo-nos cegos como ou até mais que aqueles que não se importam. Sim, porque, como Shakespeare diz, “algumas pessoas não se importam”, isto é, há sempre quem se importe para além de nós mesmos… Pode não ser a pessoa que queríamos mas ela IMPORTA-SE nem que seja um bocadinho! Só que ficamos tão presos às marcas más que os que não se importam deixam em nós que não nos deixamos tocar pelas pessoas que tão ao nosso lado, que se importam. E na nossa sede de mostrar aos outros a importância de coisas que eles nem sequer vêem acabamos nós mesmos por cegar ao que mais importa…

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Top 5 "As frases mais cruéis de sempre" - nº3


"Ri-te, e o mundo rir-se-á contigo; Chora, e chorarás sozinho.”

Não sei quem foi o autor desta frase. Eu ouvi-a pela primeira vez no filme “Old Boy” do Park Chan-Wook (que recomendo a mentes não muito sensíveis XD) e pareceu-me logo uma das frases mais cruéis que alguma vez tinha ouvido. Mas, na altura, até nem lhe liguei muito. Fez-me lembrar aquelas tias viúvas que, ao chegarem a casa depois de uma tarde às compras com as amigas, se sentem terrivelmente sozinhas e passam o serão sentadas em frente à televisão apenas com uma cadelinha fofa ao colo para desabafarem as amarguras de uma vida aparentemente perfeita. Por isso, só mais tarde é que percebi da melhor ou pior das maneiras (dependendo do ponto vista como em tudo na vida…) o seu real significado. E quanto esta frase é cruel por reflectir na perfeição o egoísmo e a solidão a que estamos condenados nos momentos mais dificieis mesmo que não o queiramos ver.
À primeira vista, esta frase parece apenas pôr em causa a importância dos amigos e da família. E o seu papel ou a falta dele quando tudo o resto se apaga. Quando tudo o resto se desvanece por entre um céu cada vez mais escuro e cheio de nuvens prestes a desabar sobre as nossas cabeças. Quando já nada conseguimos ver por entre o nevoeiro das lágrimas. E não interessam os motivos que levam a que isto aconteça. Podem ser infinitos. Ou até pode não ser nenhum em especial. Mas a verdade é que toda a gente que já se riu, já chorou. E se chora, tal como se ri em todas as fases da vida. Só que se nos rimos não interessa quem se ri connosco, se o mundo inteiro, se apenas os nossos amigos, se apenas os nossos inimigos. Mas o mesmo não acontece quando choramos. Por que aí… aí deixa de haver amigos, inimigos, conhecidos, desconhecidos. Quando choramos tudo se reduz a duas coisas: nós próprios com a nossa dor e os outros, o mundo que nos rodeia e do qual sentimos, nessas alturas, que já não fazemos parte. Ficamos cegos pela nossa dor. Pelo facto de não a conseguirmos evitar. Presos em nós mesmos. E mesmo que os outros não sejam cegos à nossa dor não nos podem simplesmente libertar. Mesmo que gritemos a plenos pulmões numa sala cheia de amigos. Mesmo que abanemos com força as pessoas que nos rodeiam para que nos ajudem a abrandar a dor. Não lhes cabe a eles sentirem a nossa dor... Simplesmente não podem... No fundo, continuaremos sozinhos...
Daí que a frase “Eu compreendo-te”, pronunciada tantas vezes por aqueles que nos tentam enxugar as lágrimas nesses momentos, seja tão hipócrita… É mais uma daquelas que dizemos porque temos que dizer alguma coisa como perguntar o “tudo bem?” a alguém conhecido que encontramos na rua e que mesmo que dissesse “Não, está tudo mal.” não ouviríamos porque já nos tínhamos ido embora. Na verdade, ninguém pode compreender a dor alheia. Aquela que é quase sempre é menor que a nossa. (Sim, porque se “a galinha do vizinho é sempre mais gorda que a minha”, a minha dor é também sempre maior e mais justificada que a do vizinho.) Nem nenhum dos nossos melhores amigos por muitos que tenhamos. Nem o melhor e mais caro psicólogo do mundo… Nem às vezes nós próprios a podemos compreender quanto mais os outros… É por isso que em vez do “eu compreendo” deveríamos antes dizer “eu estou-te a ouvir” ou simplesmente "vá lá, podes chorar à vontade.” Ou ainda mais simples “Eu estou aqui”. Ou até não dizer nada. Ficar ali apenas à espera que o choro passe seja ele sob a forma de lágrimas ou não… à espera do tempo das gargalhadas.
Sim, porque toda a gente está sempre disposta a uma boa gargalhada. É tão fácil rir mesmo que seja do riso dos outros. Nisso não somos egoístas. Apenas na dor… por parte daqueles que a sofrem e que nunca a conseguem partilhar completamente e por parte dos outros, que mesmo querendo, nunca a poderão compreender…
O mundo não pára se nos rimos. O mundo não pára se choramos. Mas só quando se sofre é que nos importamos com isso… Também ninguém, quando se ri, se sente sozinho…

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Top 5 "As frases mais cruéis de sempre" - nº4


Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.
(…)
Quando o nosso grupo estiver incompleto...reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.E, entre lágrimas abraçar-nos-emos.Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado.E perder-nos-emos no tempo....
(…)
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"
(Fernando Pessoa)

Estes excertos são de uma carta que esse grande Senhor de nome Fernando Pessoa dedicou aos seus amigos. E, agora, com o final de mais um ano lectivo que traz também para alguns o fim do secundário, é comum ver esta carta ou excertos dela em blogs, nicks, comments do hi5 e afins quase sempre acompanhada pelo tradicional “friends 4ever” ou algo desse género. Esta carta é, pois, símbolo de uma batalha que agora teremos de enfrentar mas que já sabemos, bem lá no fundo, que está, em parte, perdida. Ou na melhor da hipóteses está perdida na maior parte dos casos. É como se lentamente assistisse-mos ao virar da página. Por mais que gostemos da página do livro que agora chegou ao fim temos consciência que para sabermos (ou fazermos) o resto da história temos que virar para a página seguinte. E é sempre preciso saber (fazer) o resto da história. Os livros não foram feitos para ficarem sempre abertos na mesma página…
E certos amigos pertencem apenas a uma página desse livro. Numa página, os amigos são aqueles com quem nos sentamos na carteira da escola ou pedimos lápis emprestados ou trocamos os cromos repetidos ou jogamos á bola no recreio ou desabafamos o nosso primeiro desgosto de amor. Noutra página, os amigos são aqueles com quem jogamos sing star enquanto comemos pizza e estudamos na casa de alguém ou com quem pomos as cusquices em dia ou a quem pedimos conselhos ou com quem fizemos a viagem de finalista ou com quem costumamos sair à noite. Numa página mais adiante no livro, os amigos são aqueles a quem mandamos uma mensagem no Natal e no ano novo ou a quem ligamos de vez enquanto para desabafar alguns dos nossos problemas, desligando antes que o outro comece a contar os dele por causa da conta do telefone. E, assim, as páginas do livro vão-se amontoando umas em cima das outras. Às vezes podemos decidir voltar atrás do livro em jantares de turma ou de curso ou na altura do último adeus repentino a um amigo e prometer que iremos voltar mais vezes atrás na história ou até voltar a escrever parte da história em conjunto, mas o peso das folhas do livro é tão grande… Iremos acabar por adiar o revirar de um montão de páginas já cobertas de pó. E se é algum dia o chegarmos a tentar, o mais provável será vergarmos sobre o peso das páginas amontoadas. É mais fácil continuar na mesma página. É mais fácil adiar o combinar do almoço para amanhã que será certamente melhor dia para o fazer. E se eu me dou ao trabalho de organizar e depois ninguém está interessado?
Mas o mais cruel é que, por isso, acabamos por nos matar uns aos outros enquanto amigos e enlouquecer por dentro como diz Pessoa. Só que quase nunca damos por isso. Nem nunca nos importamos o suficiente para combinar de vez o tal almoço e enfrentar o medo de sermos os únicos que nos importamos. Mas os nossos amigos provavelmente estarão a pensar exactamente o mesmo…
É tão cruel que sendo os amigos tão importantes para nós como o afirma Pessoa no último excerto da carta com toda a razão, a maior parte acabe por ficar de tal forma presos a uma página do livro…E fechado o livro para sempre, as lembranças dos amigos que não nos puderam acompanhar no virar de tantas páginas e que acabámos por matar dentro de nós mesmos sem querer perderam-se inutilmente, tal como uma boa parte de nós mesmos, no tempo...

sábado, 19 de julho de 2008

Top 5 "As frases mais cruéis de sempre" - nº5


“Cada vez que um amigo meu tem sucesso, uma pequena parte de mim morre”.
(Gore Vidal)

Esta é uma daquelas frases que penso que quase toda a gente já viu. E se estava acompanhado(a) por amigos na altura, a folhear distraidamente um daqueles livros de provérbios e ditados para passar o tempo, talvez se tenha rido e abanado que não com a cabeça para rapidamente passar para a página seguinte. É uma frase que nos deixa naturalmente desconfortáveis pois, no fundo, esquecendo, por um pouco, o moral e politicamente correcto, é o que acontece a, pelo menos, toda a gente uma vez na vida. Por várias razões… e talvez nenhuma em especial.

Uma dessas possíveis razões poderá ser porque uma parte desse sucesso também nos pertence. Ou devia-nos pertencer. Sendo amigos dessa pessoa certamente que a apoiámos na sua luta para alcançar o sucesso. Acreditámos no seu valor quando já nem o nosso próprio amigo acreditava. Elogiámos o seu progresso. Apontámos os seus erros. Sugerimos maneiras de os corrigir. No fundo, estivemos lá. Sempre. Mas isso é algo que não se quantifica. Que não se vê. Como tal, é algo facilmente esquecido. Daí que os verdadeiros amigos quase nunca vêem reconhecido o seu valor. Podemos até ficar contentes pelo sucesso do nosso amigo, mas, uma parte de nós, a parte ligada à amizade incondicional, de facto, morre. Pode restar a amizade claro, mas não a pura, a incondicional amizade como a que as crianças juram inocentemente manter para sempre com as suas melhores amigas no recreio da escola. Ou os colegas de turma no baile de finalistas.

Além disso, um amigo é sempre alguém com quem nos identificamos. Podemos até nem dar, por isso, mas a verdade é que um amigo é sempre alguém que tem algo em comum connosco. Seja a escola, seja o estilo de roupa, seja a equipa de futebol ou outra coisa qualquer. Portanto, se esse nosso amigo conseguiu alcançar o sucesso porque é que nós não conseguimos? E entre os parabéns e o tradicional “Estou muito feliz por ti, pá!” surgem na nossa cabeça esta e outras perguntas como: Onde será que errámos? O que será que ele(a) tem que nós não temos?

Uma última razão que encontro para a verdade desta frase é com base numa analogia. Toda a gente sabe que num conjunto de lâmpadas, se uma brilha mais, mesmo que apenas um pouco mais que as outras ofusca-as completamente. E uma das piores sensações que o Homem pode sentir penso ser o de ver o seu sucesso “ofuscado” pelo sucesso dos outros. Mesmo que esses outros sejam seus amigos.

Nós somos, de facto, bichos estranhos. Cruéis. E primeiro connosco mesmos, por isso, não é de estranhar que também o sejamos com os outros. E esta frase é um bom exemplo disso. É, pois, verdade que uma parte de nós pode morrer quando um amigo nosso tem sucesso e não podemos evitar isso. Resta-nos, então, esquecer essa parte que morre e voltar a felicitar o nosso amigo pelo seu sucesso, esperando, no entanto, secretamente que, um dia, também uma parte dele morra por nossa causa…

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Um possível porquê para mais um blog...

Talvez este seja apenas mais um blog no meio de tantos outros. Mais desvarios entre muitos desvarios de uma mente descabida entre muitas mentes descabidas. E talvez nunca venha saber exactamente o porquê de ter criado este blog… Insistência de uns talvez (ou melhor um que aproveito desde já por agradecer o entusiasmo e a pachorra de ter esperado tanto XD), mas acho que sobretudo o desejo de escre(ver). De voar por cima de tudo para só assim poder ver. Ver como as coisas realmente são. Ver tudo o que as coisas são. Ver tudo o que as coisas podem ser e não são. Ver tudo o que as coisas não podem ser e são. Ver tudo o que as coisas parecem ser e não são. Ver tudo o que as coisas não parecem ser mas são. Ver como a maioria das coisas são muito pequenas quando vistas de cima. Quando finalmente compreendidas. Outras pelo contrário aumentam de tamanho. Quando compreendemos a sua real importância. Ver. Às vezes é preciso voar para compreender. E escre(ver) para vi(ver).

É claro que tudo isto pode não passar de simples baboseiras foleiras, ridículas e supostamente metafísicas ou algo do género, mas como já dizia aquele grande Senhor “ Não sou nada. / Nunca serei nada. / Não posso querer ser nada. / Mas à parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. E o meu sonho é vi(ver).