quinta-feira, 24 de julho de 2008

Top 5 "As frases mais cruéis de sempre" - nº3


"Ri-te, e o mundo rir-se-á contigo; Chora, e chorarás sozinho.”

Não sei quem foi o autor desta frase. Eu ouvi-a pela primeira vez no filme “Old Boy” do Park Chan-Wook (que recomendo a mentes não muito sensíveis XD) e pareceu-me logo uma das frases mais cruéis que alguma vez tinha ouvido. Mas, na altura, até nem lhe liguei muito. Fez-me lembrar aquelas tias viúvas que, ao chegarem a casa depois de uma tarde às compras com as amigas, se sentem terrivelmente sozinhas e passam o serão sentadas em frente à televisão apenas com uma cadelinha fofa ao colo para desabafarem as amarguras de uma vida aparentemente perfeita. Por isso, só mais tarde é que percebi da melhor ou pior das maneiras (dependendo do ponto vista como em tudo na vida…) o seu real significado. E quanto esta frase é cruel por reflectir na perfeição o egoísmo e a solidão a que estamos condenados nos momentos mais dificieis mesmo que não o queiramos ver.
À primeira vista, esta frase parece apenas pôr em causa a importância dos amigos e da família. E o seu papel ou a falta dele quando tudo o resto se apaga. Quando tudo o resto se desvanece por entre um céu cada vez mais escuro e cheio de nuvens prestes a desabar sobre as nossas cabeças. Quando já nada conseguimos ver por entre o nevoeiro das lágrimas. E não interessam os motivos que levam a que isto aconteça. Podem ser infinitos. Ou até pode não ser nenhum em especial. Mas a verdade é que toda a gente que já se riu, já chorou. E se chora, tal como se ri em todas as fases da vida. Só que se nos rimos não interessa quem se ri connosco, se o mundo inteiro, se apenas os nossos amigos, se apenas os nossos inimigos. Mas o mesmo não acontece quando choramos. Por que aí… aí deixa de haver amigos, inimigos, conhecidos, desconhecidos. Quando choramos tudo se reduz a duas coisas: nós próprios com a nossa dor e os outros, o mundo que nos rodeia e do qual sentimos, nessas alturas, que já não fazemos parte. Ficamos cegos pela nossa dor. Pelo facto de não a conseguirmos evitar. Presos em nós mesmos. E mesmo que os outros não sejam cegos à nossa dor não nos podem simplesmente libertar. Mesmo que gritemos a plenos pulmões numa sala cheia de amigos. Mesmo que abanemos com força as pessoas que nos rodeiam para que nos ajudem a abrandar a dor. Não lhes cabe a eles sentirem a nossa dor... Simplesmente não podem... No fundo, continuaremos sozinhos...
Daí que a frase “Eu compreendo-te”, pronunciada tantas vezes por aqueles que nos tentam enxugar as lágrimas nesses momentos, seja tão hipócrita… É mais uma daquelas que dizemos porque temos que dizer alguma coisa como perguntar o “tudo bem?” a alguém conhecido que encontramos na rua e que mesmo que dissesse “Não, está tudo mal.” não ouviríamos porque já nos tínhamos ido embora. Na verdade, ninguém pode compreender a dor alheia. Aquela que é quase sempre é menor que a nossa. (Sim, porque se “a galinha do vizinho é sempre mais gorda que a minha”, a minha dor é também sempre maior e mais justificada que a do vizinho.) Nem nenhum dos nossos melhores amigos por muitos que tenhamos. Nem o melhor e mais caro psicólogo do mundo… Nem às vezes nós próprios a podemos compreender quanto mais os outros… É por isso que em vez do “eu compreendo” deveríamos antes dizer “eu estou-te a ouvir” ou simplesmente "vá lá, podes chorar à vontade.” Ou ainda mais simples “Eu estou aqui”. Ou até não dizer nada. Ficar ali apenas à espera que o choro passe seja ele sob a forma de lágrimas ou não… à espera do tempo das gargalhadas.
Sim, porque toda a gente está sempre disposta a uma boa gargalhada. É tão fácil rir mesmo que seja do riso dos outros. Nisso não somos egoístas. Apenas na dor… por parte daqueles que a sofrem e que nunca a conseguem partilhar completamente e por parte dos outros, que mesmo querendo, nunca a poderão compreender…
O mundo não pára se nos rimos. O mundo não pára se choramos. Mas só quando se sofre é que nos importamos com isso… Também ninguém, quando se ri, se sente sozinho…

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