Sabem o que é mais cruel que o desprezo de alguém? Eu digo-vos: a sua indiferença. Há muito, muito ,muito tempo (há um ano) eu costumava acreditar que todas as pessoas que conhecíamos na vida deixavam uma espécie de marca dentro de nós. E nós também deixávamos uma marca dentro das pessoas que íamos conhecendo. E que por muitos e muitos anos que passámos sem ver as pessoas que marcávamos, elas se lembravam de algo sobre nós. Mesmo que fosse a coisa mais insignificante do mundo. O nosso sorriso, uma camisola nossa que invejavam, as músicas que gostávamos mais de cantar no sing star, a nossa equipa de futebol… Ou até uma discussão por causa de um trabalho de grupo, uma mentira, uma injustiça, um erro que cometemos em relação a essa pessoa ou ela em relação em nós próprios. Acreditava eu que todos tínhamos dentro de nós uma marca, “boa” ou “má”, de todas as pessoas que já tínhamos encontrado na nossa vida, conhecido de alguma maneira. Uma marca das pessoas que nos tocavam independentemente da insignificância do motivo. Se é que há um motivo específico e determinado para as pessoas se tocarem umas às outras…
Mas há pessoas que nunca conseguimos tocar. Há pessoas que nunca conseguimos que nos vejam. Mesmo que estejamos com elas todas os dias. Mesmo que tenhamos uma história em comum. Mesmo que dêmos o melhor de nós próprios. Há pessoas para as quais nunca ficamos nem passamos. Somos apenas uma mera ilusão do tempo, da vida. Uma sombra desaparecida para sempre pelos raios de sol. Só que o pior não é isto. O pior é que o facto de não conseguirmos tocar uma pessoa faz com que ela nos toque como que para sempre e de uma maneira que não queremos. Sim, porque mesmo não querendo, mesmo parecendo um completo absurdo, essa pessoa acaba por ser importante para nós. Nem que seja porque não queríamos nada que assim fosse...É tão injusto… Tão cruel cada segundo que passamos a pensar nessa pessoa (mesmo que seja “Só quero que ele(a) vá arder no inferno!”), enquanto que, precisamente nesse segundo, ela está a pensar noutra coisa completamente diferente e seguramente mais útil. Mas é como Fernando Pessoa dizia “Morrer é apenas não ser visto.”. E não tocar alguém que nos tocou mesmo que pelo pior motivo do mundo é não nascer nessa pessoa e essa pessoa nascer em nós próprios. Mas o que fazer com a marca dessa pessoa? Com a importância que estamos a dar a algo que mais ninguém dá? Mesmo que os outros estejam errados e nós certos… O que fazer com as memórias boas de uma marca má? O mesmo que às memórias más? Apagá-las simplesmente? Deitá-las para o lixo? Matá-las? Fazer aquilo que essa pessoa que nos marcou fez? Sermos bestas como ela? Mas ela afinal não é uma besta feliz? Não torna mais úteis todos os segundos da sua vida ao não dar importância ao que devia dar?
Mas o mais cruel não é ver feliz essa pessoa que não dá importância ao que supostamente deveria ser-lhe importante. O pior é que nós que, pelo contrário, nos importamos, tornamo-nos cegos como ou até mais que aqueles que não se importam. Sim, porque, como Shakespeare diz, “algumas pessoas não se importam”, isto é, há sempre quem se importe para além de nós mesmos… Pode não ser a pessoa que queríamos mas ela IMPORTA-SE nem que seja um bocadinho! Só que ficamos tão presos às marcas más que os que não se importam deixam em nós que não nos deixamos tocar pelas pessoas que tão ao nosso lado, que se importam. E na nossa sede de mostrar aos outros a importância de coisas que eles nem sequer vêem acabamos nós mesmos por cegar ao que mais importa…
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