domingo, 28 de março de 2010

É isso (talvez, não sei)

Já não escrevo. Não tenho o quê. Ou talvez tenha demais. Não sei. É isso: não sei o que escrever. Sobre o quê (indecisão). Como (tortura). Com que palavras (falta de engenho). Para quem (quem lê?). De quem (?). Já não sei quem escrevo. É isso (então e agora?).

Agora risca-se. O que talvez depois se apague. Não sobra nada. É isso: sobra eu.

Eu. Até me soa confunso tal pronome associado a mim. Não me revejo em nenhuma imagem. Dessas que toda a gente constrói para toda a gente. Não me revejo neste corpo. Nestas roupas. Neste sorriso-força-do-hábito. Até, em vez disso, podia chorar. Mas não: estico os cantos da boca para cima e mostro os dentes. É isso: o que preferirem de mim.

Pergunta do dia é: Que raio é que eu estou a fazer?" Pena não vir em pacotinhos de açúcar. Mas vem na legenda de certas imagens. Eu sozinha numa sala de cinema (falta de companhia). Eu numa actuação da tuna (não sei cantar nem tocar nem gosto de me embebedar). Eu num almoço na faculdade com gente que não me diz nada (eles a contar anedotas de loiras pela terceira vez na semana). Eu a refugiar-me numa casa-de-banho (não posso explodir). É isso (frase do dia: não sei.)

E ainda existes tu. Ou melhor, não existes tu. Aí está o problema. Só existes em mim. Mas sei o teu nome e tu sabes o meu (lembraste?). És de carne e osso. Respiras. Se te pudesse tocar, sentiria-te. Se te pudesse falar, conversaríamos (como já o fizemos). Poderia mas não posso. Não te encontro. O mundo não é um lugar pequeno. O mundo é demasiado grande para nós os dois. E tu és o meu atestado de loucura. É isso (estou louca).

domingo, 7 de março de 2010

He knew how alone he was but he could see

"He looked across the sea and knew how alone he was now. But he could see the prisms in the deep dark water and the line streching ahead and the strange undulation of the calm. The clouds were building up now for the trade wind and he looked ahead and saw a flight of wild ducks etching themselves against the sky over the water, then blurring, then etching again and he knew no man was ever alone on the sea."
Ernest Hemingway in "The Old Man and the Sea"

Talvez o estar sozinho tenha um pouco de falta de vista. Falta de ver tudo o que nos rodeia e não só os espaços vazios daquilo que não temos. Tenho de aprender a olhar para os sítios certos.