terça-feira, 28 de abril de 2009

Dia mau/ dia bom

20/04/09
6h30 O despertador toca. Ela adormece. Perde o 1º autocarro. Perde o 2º autocarro. Chega atrasada à aula de anatomia. Os cadáveres congelados arrefecem-lhe as mãos. Avaliação oral. Dos 22 músculos da aula desse dia, esquece-se do nome de 2. Chumbada. Aula de Histologia. Tem um colega, ao seu lado, que faz imensas perguntas ao professor. Pensa que gostava de ter, pelo menos, um quinto do seu entusiasmo. Aula de Embriologia. Mais 40 slides de matéria. Aula de Bioquimica II. Por incrivel que pareça consegue ser ainda mais dificil que a primeira. Volta a apensar que este é, de facto, o curso que sempre quis. Mas talvez não seja apenas a pessoa certa para ele…

13h Fila do almoço. Comentam sempre que é enorme… Almoço. Fala-se de um concerto para breve de uma colega, de uma exibiçao de capoeira no fim-de-semana passado de outro colega e do exame de código marcado para amanhã de outro. Ela ouve, não tem nada a acrecentar.

14h 1ª aula da tarde. Aos 20 minutos adormece. Acorda de cada vez que se sente a escorregar da cadeira. Ou quando um colega lhe dá um toque no braço e se ri. O professor olha para ela e franze a testa. 2ªa aula da tarde: Zootecnia Geral. É a cadeira que mais gosta. Mas os colegas nãem por isso Torna-se dificil ouvir a voz baixa do professor por entre o ruído das conversas.


16h Perde o autocarro dessa hora por pouco. Não valia a pena terem corrido. Fala-se dos 7 trabalhos para entregar no mês que vem. Suspira-se. Aparece o autocarro. Refila-se que vem sempre cheio. Volta a falar-se dos trabalhos. Um miudo faz birra. Uma senhora idosa descreve às outras duas todas as operações que já teve qua fazer. Agora fala-se mal dos professores de Anatomia. Mas até esse assunto se gasta. Silêncio até que ela diz o "até amanhã" do costume aos colegas e saí aliviada na paragem de autocarro.

16h50 Agora falta apanhar o 2º autocarro. A fila de espera já vai grande. Mas consegue arranjar lugar sentada. Trânsito. A bateria do mp3 vai-se. Resta-lhe a (horrível) música kizomba de um rapaz sentado atrás de si.

17h30 Chega a casa. Lancha. Estuda. Toma banho de água morna porque al mãe se esqueceu de encomendar o gás. Janta. Adormece no sofá a ver uma série. O irmão acorda-a dissendo que sala não é sitio para se dormir. Vai preparar as coisas para o dia seguinte. Vai para cama.

27/04/09
Hoje ela não adormeceu mas o 1º autocarro teve um furo. Voltou a chegar atrasada. Enervou-se na aula de anatomia e cortou um músculo que não devia. O professor não fez avaliação mas anotou a falha. O resto do dia foi basicamente igual ao da semana passada.
Mas, apesar de tudo isso, hoje foi para ela um bom dia. Bastou uns olhos azuis que raramente vê, um sorriso, um “olá” e uma boa conversa no autocarro. Porque estas “desgraças” todas podem ser muito engraçadas quando partilhadas com as pessoas certas. E sabe sempre bem saber das “desgraças” dos outros também. Ou simplesmente ter sempre assunto de conversa.

Afinal, não sou uma pessoa triste nem complicada. Para um dia ser bom basta-me apenas um sorriso, um “olá” e uma boa conversa...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Wrong

"Talvez a felicidade seja isto : não sentirmos que devíamos estar noutro lugar, a fazer outra coisa, sendo outra pessoa." Eric Weiner

Talvez a felicidade seja o contrário do meu estado de espírito. No dia de hoje que não foi mau e também não foi bom. Foi apenas mais um dia demasiado parecido com os outros. Em que disse os bons-dias com um sorriso, em que conversei, em que contei piadas e em que me ri das piadas dos outros. Tal como em todos os outros dias. Como pessoa bem-disposta que sou tida em conta por alguns, os que me rodeiam durante o dia.
Resta a irrealidade de tudo isto. A confusão dos pensamentos. O descoordenamento da indefinição. O sufoco da passagem do tempo não aproveitado. O cansaço da luta de todos os dias.
E a escrita patética supostamente compensada por um letra de uma música.
Resto eu. Mentira. Resta tudo aquilo que eu não consigo ser para além de uma mistura infinita de Erros.


Wrong (Radio Version) - Depeche_Mode

I was born with the wrong sign
In the wrong house
With the wrong ascendancy
I took the wrong road
That led to the wrong tendencies
I was in the wrong place at the wrong time
For the wrong reason and the wrong rhyme
On the wrong day of the wrong week
I used the wrong method with the wrong technique
Wrong
Wrong

There's something wrong with me
Cannot be something wrong with me
Inherently
The wrong mix in the wrong genes
I reached the wrong ends by the wrong means
It was the wrong plan
In the wrong hands
With the wrong theory for the wrong man
The wrong lies, on the wrong vibes
The wrong questions with the wrong replies
Wrong
Wrong

I was marching to the wrong drum
With the wrong scum
Pissing out the wrong energy
Using all the wrong lines
And the wrong signs
With the wrong intensity
I was on the wrong page of the wrong book
With the wrong rendition of the wrong hook
Made the wrong move, every wrong night
With the wrong tune played till it sounded right yah
Wrong
Wrong
Wrong

I was born with the wrong sign
In the wrong house
With the wrong ascendancy
I took the wrong road
That led to the wrong tendencies
I was in the wrong place at the wrong time
For the wrong reason and the wrong rhyme
On the wrong day of the wrong week
I used the wrong method with the wrong technique

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A praia da fotografia

Praia das Maçãs - 11/04/09


Em cima de um móvel da minha casa de jantar está, desde que me lembro, uma foto muito parecida com esta. Foi tirada neste exacto local. Durante a baixa-mar a avaliar pela espuma das ondas e as marcas na areia. Possivelmente na mesma altura do dia pela posição do sol escondido entre as nuvens cinzentas. E num dia igualmente frio e ventoso a avaliar pelo kispo vermelho da criança que sorri e acena com uma mão suja de areia bem no meio da fotografia.

Não sei que idade tinha na altura. Talvez 4, 5 anos... Usei aquele kispo tantos anos... Tinha montes de bolsos de onde tirava as mais diversas coisas como molas, pedras, brindes dos ovos Kinder e até caracóis. Na foto ainda me dava por depois do joelho. Quando o deixei de usar dava-me pela cintura. Ainda usava franja também. E o cabelo certinho pelo ombro que me esvoaçava pela cara ao sabor do vento. E tinha aquele sorriso. Não era bonito nem feio. Era um sorriso de quem fica feliz só por correr na areia e não se importa de ficar mal na fotografia...

Quando era pequena tinha o hábito de me imaginar quando fosse grande. Passava horas a imaginar como seria o meu aspecto, as minhas roupas, o meu quarto. Inventava nomes para o meu namorado, para os meus amigos, para os meus colegas. Criava situações do meu dia-a-dia desde as mais alegres até aos problemas mais complicados de resolver. Quando fosse grande.

Agora, 14 anos depois, já não sou pequena. Mas também não sei se sou grande.. Sei que já não tenho aquele kispo mas um casaco. E que em vez dos brindes dos ovos Kinder e dos caracóis nos bolsos agora tenho o telemóvel e o mp3. Também já não tenho a franja nem o cabelo certinho pelo ombro. E já não fico feliz só por correr na areia nem sorrio muito para as fotos com medo de ficar mal nas fotografias. Ou simplesmente não apareço nelas como é o caso...
Fica a praia que parece exactamente igual aquilo que era há 14 anos. Haja algo que não mude com o tempo...