Em cima de um móvel da minha casa de jantar está, desde que me lembro, uma foto muito parecida com esta. Foi tirada neste exacto local. Durante a baixa-mar a avaliar pela espuma das ondas e as marcas na areia. Possivelmente na mesma altura do dia pela posição do sol escondido entre as nuvens cinzentas. E num dia igualmente frio e ventoso a avaliar pelo kispo vermelho da criança que sorri e acena com uma mão suja de areia bem no meio da fotografia.
Não sei que idade tinha na altura. Talvez 4, 5 anos... Usei aquele kispo tantos anos... Tinha montes de bolsos de onde tirava as mais diversas coisas como molas, pedras, brindes dos ovos Kinder e até caracóis. Na foto ainda me dava por depois do joelho. Quando o deixei de usar dava-me pela cintura. Ainda usava franja também. E o cabelo certinho pelo ombro que me esvoaçava pela cara ao sabor do vento. E tinha aquele sorriso. Não era bonito nem feio. Era um sorriso de quem fica feliz só por correr na areia e não se importa de ficar mal na fotografia...
Quando era pequena tinha o hábito de me imaginar quando fosse grande. Passava horas a imaginar como seria o meu aspecto, as minhas roupas, o meu quarto. Inventava nomes para o meu namorado, para os meus amigos, para os meus colegas. Criava situações do meu dia-a-dia desde as mais alegres até aos problemas mais complicados de resolver. Quando fosse grande.
Agora, 14 anos depois, já não sou pequena. Mas também não sei se sou grande.. Sei que já não tenho aquele kispo mas um casaco. E que em vez dos brindes dos ovos Kinder e dos caracóis nos bolsos agora tenho o telemóvel e o mp3. Também já não tenho a franja nem o cabelo certinho pelo ombro. E já não fico feliz só por correr na areia nem sorrio muito para as fotos com medo de ficar mal nas fotografias. Ou simplesmente não apareço nelas como é o caso...
Fica a praia que parece exactamente igual aquilo que era há 14 anos. Haja algo que não mude com o tempo...
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