sábado, 31 de janeiro de 2009

Momentos Nicola (ou algo mais)

29/01/09
Adoro café. Não o tomo para despertar até porque nunca notei qualquer efeito em mim mas apenas pelo seu sabor. Gostos não se discutem e sabores não se explicam. Mas mesmo quem simplesmente odeia café de certeza que já reparou que, desde algum tempo, os pacotes de açúcar de quase todas as marcas tem umas certas frases num dos lados. Não vou dizer que elas sao filosóficas, poéticas, inspiradoras, profundas, românticas, palermas, lamechas, ridículas ou simplesmente uma boa ideia de marketing. Isso depende da forma como está a ser (ou não) saboreado o café. E mais uma vez sabores não se explicam...
Mas independetemente disso a verdade é que estas frases não deixam ninguém indiferente. E isso é algo que acontece poucas vezes seja em relação aquilo que for...
Para mim são breves momentos de lucidez. Momentos em que eu me ajusto à frase. Ou simplesmente deixo que ela se ajuste a mim. Ajusto-me. Hoje entre a multidão eufórica da primeira fase de exames terminada. Entre as malas daqueles que voltam para a terra. Entre os outros que não sabem o que isso é. E todos na ansia das datas, dos números, do "reprovado" e do "aprovado". Toda a gente fala. Ninguém se ouve.Telemóveis na mão. Dedos a velocidade da luz. Contágio de receios, ansias e preocupações. Levo a mão ao bolso do casaco talvez a procura do meu também e dele tiro isto:


O meu momento de lucidez. O meu momento café Nicola (ou algo mais) que vai aparecendo nas mais diversas formas. Hoje apareceu assim... Talvez seja um bom começo embora não saiba para o quê. Desapareceu a lucidez. Desapareceu o momento Nicola (ou algo mais). Resta o registo a partir de agora.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Músicas contadoras de histórias 1

"Durante uma semana, todos os dias, sofrendo o vento e a chuva pelos caminhos alagados de S. Sebastião da Pedreira, o músico foi tocar duas, três horas, até que Blimunda teve forças para levantar-se, sentava-se ao pé do cravo, pálida ainda, rodeada de música como se mergulhasse por um profundo mar, diremos nós, que ela por aí nunca navegou, o seu naufrágio foi outro. Depois a saúde voltou depressa, se realmente faltara."
in "Memorial do Convento" de José Saramago

Às vezes o que me falta é apenas um mar profundo onde possa mergulhar. Onde seja livre de voar ao sabor das ondas. E flutuar com as gaivotas a esvoaçarem lá muito em cima no céu. Livre das âncoras do passado. Livre das minhas histórias mais os seus naufrágios. O meu mar. As minhas histórias. Às vezes eu quero outro mar. Outras histórias. E há musicas que são simplesmente de outro mundo. Há músicas excelentes contadoras de histórias.


As marionetas


Fragmagens - Donna Maria


Esta música lembra-me um filme. As notas do piano, logo no ínicio, parecem indicar que será um filme triste.
Mas depois há uma mudança súbita de ritmo. Dá-se ínico, então, à história.
E entra o violino. O instrumento mágico. E a conjugação dos dois instrumentos é a banda sonora perfeita de um filme de marionetas. Cada nota ritimada do piano é um puxar dos cordões que movem as marionetas. Invisíveis. Cada nota mágica do violino dá acção à história. E as marionetas movem-se, gesticulam, falam na tela do cinema. Sucedem-se as acções. As histórias. Os acontecimentos. As pessoas. As emoções. Os sentimentos. Numa roda-vida de movimentos repetitivos, calculados, planeados, estudados em camâra rápida.
Mas eis que as notas do piano e do violino se alteram. E o ritmo também. Talvez os cordões nao sejam assim tao invisiveis! Talvez as marionetas possam, um dia, ter vontade própria..
Suspense.
As notas do violino tornam-se mais mágicas, mais agudas, mais delicadas, mas profundas...Mais cortantes pelo peso da consciencia.
No final, volta o piano. O filme acaba.
Passam os créditos finais.
As marionetas de fios invisiveis continuam marionetas.
Jazem caídas no palco.
Por hoje a
cabou-se o espectáculo.
Fundo preto.

sábado, 10 de janeiro de 2009

(Falta de) Liberdade

Liberdade
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada
O sol doira
Sem literarura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente natinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma
[...]
Fernando Pessoa

Com 12 capitulos, 256 páginas, dezenas de gráficos, esquemas e fórmulas geométricas de outros tantos compostos e um exame na terça-feira seguidos de outros 7 em 3 semanas(no mínimo, isto é, se não chumbar a nenhum, claro...) este poema não é propriamente aquele que deveria pairar na minha cabeça neste momento. Mas, enquanto as famílias, funções, constituição e carga eléctrica da fosfatidiletanolamina, fosfatioilinositol, fosfatidilserina, fosfatidilglicerol e afins me bailam diante dos olhos, não deixo de pensar o quanto este poema pode ser verdadeiro...
Mas também nunca ninguém disse o que é verdadeiro é o que está certo. Nem que, às vezes, o cinzento apaga a luz de todas as outras cores além de ser das cores mais difícieis de apagar. E os sonhos têm também o seu lado cinzento...