sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Um segredo fechado


Longe daqui,
Tens um segredo guardado,
Para abrir,
Num lugar mais desejado,
Num lugar onde possas saber,
Que por ser segredo não podes dizer...

Serás tu a sombra que olhas no chão,
Serás a promessa que trazes na mão,

(…)

Serás o silêncio ou um sonho desfeito,
Será teu o grito que arrancas do peito,

(…)

Longe daqui,
Tens um desejo fechado,
Para abrir
Num lugar mais arejado,
Num lugar onde possas saber,
O que há já muito tempo ficou por dizer...

(…)

Ficaste longe daqui,
Tu estás longe de ti...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Blindness



Blindness - o filme pelo qual espero há meses chega a 13 de Novembro a Portugal, finalmente. O filme inspirado numa das maiores obras que li até hoje: "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago.

Geralmente acho que as adaptações cinematográficas de livros são, grosseiramente falado, como tentar ver toda uma cidade de um rés-de-chão... O livro acaba, assim, invarialvelmente por ser sempre mais rico e, principalmente, mais livre do que o filme inspirado nele... Por isso, e apesar de garantida a participação de grandes actores como Jullianne Moore e Dany Gloover, acho que Fernando Meirelles, o realizador deste filme, tinha uma missão épica. Missão essa que aparentemente conseguiu cumprir apesar de ter suscitado um coro de criticas por parte de várias associações de audiovisuais (que terão lido o livro?) e muitos poucos aplausos. No entanto, Blindness foi considerado um dos melhores filmes de abertura do festival de Cannes pelos criticos só que isso é apenas a sua opinião por mais entendidos que sejam no assunto... Agora, emocionar o próprio José Saramago quando este assistiu ao filme pela primeira vez...

Não duvido que seja um filme "forte", o livro é arrebatador. Mas ao que parece o filme é tão "forte" que, nos Estados Unidos, houve várias pessoas que abondonaram o filme a meio porque simplesmente já não aguentavam ver mais.

Mas, para mim, isso não é de estranhar quando nos é mostrado o lado pior do Homem e de repente nos vemos a nós próprios e aos outros de uma forma que nunca julgámos possível talvez porque nunca nos tenhamos visto realmente. E, de facto, tal como diz o trailler "a única coisa mais assustadora que a cegueira é sermos os únicos a ver"...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Feira de livros para não preconceituosos


Bem, para quem ainda não sabe está a decorrer até 18 de Outubro na praça da Figueira em Lisboa a VIII Feira do Livro Manuseado. Esta feira está aberta desde as 19h às 20h e, tal como o nome indica, é constituída apenas por restos de stocks, fins de edição, promoções, saldos, livros com deficiente apresentação mas com conteúdo intocável e edições já raras.

É claro que os livros expostos à primeira vista não são muito apelativos. É claro que os livros de autores mais conhecidos e edições mais raras das chamadas grandes obras já desaperaceram simplesmente. É claro que não há sitios onde nos possamos sentar calmamente a folhear um livro nem ar condicionado como na fnac. É claro que saimos de lá com ao pregão do homem das rifas à entrada da tenda nos ouvidos e as mãos ligeiramente castanhas do pó dos livros...


Mas pondo de fora estes preconceitos... Sei que levei três livros, paguei 12 euros (quando geralmente pago, em média, mais de 15 euros por um) e esperam-me longas horas de boa literatura. Além disso, se me aborrecer com algum destes livros sempre me posso entreter a pensar por que sítios terão andado e por que mãos terão sido manuseados até terem vindo parar às minhas...


terça-feira, 7 de outubro de 2008

A outra lenda de Narciso



Já toda a gente ouviu falar da lenda de Narciso nem que seja pelo narcisismo, palavra muito em moda nos dias de hoje ao contrário da filosofia/atitude por este nome caracterizada que nunca passou de moda. Reza, então, a lenda que um belo jovem de nome Narciso estava tão fascinado por si mesmo que, certo dia, caiu dentro do lago, onde ia todos os dias contemplar a sua beleza, e acabou por morrer afogado. No lugar onde caiu nasceu, pois, uma bela flor a que chamaram de narciso.
No entanto, não era assim que o escritor Oscar Wilde acabava esta história. Ele contava que quando Narciso morreu, apareceram as Oréiades (as ninfas do bosque) e viram o lago de água doce transformado num lago de água salgada.
- Por que choras? – perguntaram as Oréiades.
- Choro por Narciso. – respondeu o lago.

-Ah, não nos espanta que chores por Narciso… Afinal, apesar de todas nós sempre termos corrido atrás dele pelo bosque, tu eras o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto a sua beleza.
- Mas Narciso era belo? - perguntou o lago intrigado.

- Quem mais do que tu poderia saber isso? Era nas tuas margens que ele se debruçava todos os dias…
O lago ficou, então, uns momentos em silêncio. Por fim, disse:
- Eu choro por Narciso, mas nunca me tinha apercebido que ele era belo. Choro por Narciso, porque todo as vezes que ele se debruçava sobre as minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza reflectiva.


Talvez muito haja a dizer sobre esta outra lenda de Narciso. Ou talvez não. Mesmo assim vou arriscar dizer algo embora não por palavras minhas:

“Cada vez irei vendo menos, mesmo que não perca a vista tornar-me-ei mais e mais cega cada dia porque não terei quem me veja.”
in "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago

Narciso olhava o lago apenas para se ver a si próprio. O lago olhava nos olhos de Narciso apenas para se ver a si próprio. E, no fundo, ninguém via ninguém. Ninguém era visto e ninguém via.(ou vice-versa). É ser-se completamente cego: aos Outros e a nós próprios se é que, no fundo, não é tudo a mesma coisa...