
Já toda a gente ouviu falar da lenda de Narciso nem que seja pelo narcisismo, palavra muito em moda nos dias de hoje ao contrário da filosofia/atitude por este nome caracterizada que nunca passou de moda. Reza, então, a lenda que um belo jovem de nome Narciso estava tão fascinado por si mesmo que, certo dia, caiu dentro do lago, onde ia todos os dias contemplar a sua beleza, e acabou por morrer afogado. No lugar onde caiu nasceu, pois, uma bela flor a que chamaram de narciso.
No entanto, não era assim que o escritor Oscar Wilde acabava esta história. Ele contava que quando Narciso morreu, apareceram as Oréiades (as ninfas do bosque) e viram o lago de água doce transformado num lago de água salgada.
- Por que choras? – perguntaram as Oréiades.
- Choro por Narciso. – respondeu o lago.
-Ah, não nos espanta que chores por Narciso… Afinal, apesar de todas nós sempre termos corrido atrás dele pelo bosque, tu eras o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto a sua beleza.
- Mas Narciso era belo? - perguntou o lago intrigado.
- Quem mais do que tu poderia saber isso? Era nas tuas margens que ele se debruçava todos os dias…
O lago ficou, então, uns momentos em silêncio. Por fim, disse:
- Eu choro por Narciso, mas nunca me tinha apercebido que ele era belo. Choro por Narciso, porque todo as vezes que ele se debruçava sobre as minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza reflectiva.
Talvez muito haja a dizer sobre esta outra lenda de Narciso. Ou talvez não. Mesmo assim vou arriscar dizer algo embora não por palavras minhas:
“Cada vez irei vendo menos, mesmo que não perca a vista tornar-me-ei mais e mais cega cada dia porque não terei quem me veja.”
Narciso olhava o lago apenas para se ver a si próprio. O lago olhava nos olhos de Narciso apenas para se ver a si próprio. E, no fundo, ninguém via ninguém. Ninguém era visto e ninguém via.(ou vice-versa). É ser-se completamente cego: aos Outros e a nós próprios se é que, no fundo, não é tudo a mesma coisa...
No entanto, não era assim que o escritor Oscar Wilde acabava esta história. Ele contava que quando Narciso morreu, apareceram as Oréiades (as ninfas do bosque) e viram o lago de água doce transformado num lago de água salgada.
- Por que choras? – perguntaram as Oréiades.
- Choro por Narciso. – respondeu o lago.
-Ah, não nos espanta que chores por Narciso… Afinal, apesar de todas nós sempre termos corrido atrás dele pelo bosque, tu eras o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto a sua beleza.
- Mas Narciso era belo? - perguntou o lago intrigado.
- Quem mais do que tu poderia saber isso? Era nas tuas margens que ele se debruçava todos os dias…
O lago ficou, então, uns momentos em silêncio. Por fim, disse:
- Eu choro por Narciso, mas nunca me tinha apercebido que ele era belo. Choro por Narciso, porque todo as vezes que ele se debruçava sobre as minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza reflectiva.
Talvez muito haja a dizer sobre esta outra lenda de Narciso. Ou talvez não. Mesmo assim vou arriscar dizer algo embora não por palavras minhas:
“Cada vez irei vendo menos, mesmo que não perca a vista tornar-me-ei mais e mais cega cada dia porque não terei quem me veja.”
in "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago
Narciso olhava o lago apenas para se ver a si próprio. O lago olhava nos olhos de Narciso apenas para se ver a si próprio. E, no fundo, ninguém via ninguém. Ninguém era visto e ninguém via.(ou vice-versa). É ser-se completamente cego: aos Outros e a nós próprios se é que, no fundo, não é tudo a mesma coisa...
2 comentários:
Quase ninguém vê ninguém, todos tentam tornar os outros em sí próprios, que é o tal ver-se reflectido nos olhos...
(já agora gostava de saber o autor da pintura)
Tenho o péssimo hábito de nunca pôr os nomes dos autores das imagens que coloco nos meus posts eu sei... Bem, vou começar a corrigir já este meu defeito com este post ;) A imagem é um excerto de uma pintura de John William Waterhouse, de título "Eco e Narciso" e que data de 1903.
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