sábado, 14 de fevereiro de 2009

Flores

Tenho uma prima que é florista e houve um ano que tive que ir ajudá-la no dia de São Valentim. Antes da loja abrir já havia uma fila de 8 homens em frente à loja. Eram todos novos. Bem-vestidos. Perfumados. Alguns roíam as unhas. Outros ajeitavam a roupa. São os Ansiosos.
- Bom dia.
- Bom dia. O que vai…
- Eu queria um ramo de flores, rosas, umas 7 ou 8 não sei, vermelhas.
- Ok. Espere só um bocadinho.
- Mas eu queria também aqueles raminhos verdes, e aquela coisa…o embrulho… à volta, sabe? - Sim, sim não se preocupe.
- E queria também um daqueles cartõezinhos.
- Estão aí ao seu lado. Pode escolher um.
A minha prima faz o ramo. Mistura as rosas com os ramos. Põe o embrulho e os laços. Borrifa-as. Dá-lhes o jeitinho final.
-Olhe, desculpe! Afinal… não pode mudar as rosas? Eu acho que afinal ela gosta mais de rosas amarelas…

À noite vêm os mais velhos. Homens de fato e gravata que consultam o relógio vezes sem conta. Carro estacionado em 2ª fila. São os Desesperados.
- Boa n…
- Boa noite. Olhe, eu queria uma flor, se faz favor.

- E que flor vai querer? - Ah, pode ser uma rosa.
- E de que cor? Já não temos rosas vermelhas...
- Eh pah… Branca, rosa…Não sei escolha a menina.
- E quer que faça ramo? -Isso vai demorar muito?
- Não, não é rápido. - Então… sim, pode ser...
Eram 21h30 quando fechámos a loja. A minha prima comentava enquanto fechava a caixa que tinha vendido num só dia muito mais do costumava vender numa semana. Quando estávamos a acabar de varrer o chão bate à porta o antigo proprietário da loja, o senhor Joaquim. Tem quase 90 anos e apesar de já não trabalhar na loja há algum tempo, todos os dias, antes da loja fechar, passa por ali.
- Então, senhor Joaquim, vem buscar uma rosa para à dona Engracia?
- Não, não! Vim só ver se as meninas tinham conseguido dar hoje conta do recado. Apesar de flores não serem presente para se dar a ninguém num dia como este…
- Não?
- Claro que não, menina! Olhe, toda a minha vida vendi flores. O meu pai também era florista, sabe? Ainda não tinha 7 anos quando comecei a vender flores na rua. Acho que as flores são muito bonitas para enfeitar uma casa mas não para oferecer à nossa companheira…
- Então, mas porquê, senhor Joaquim?
- Porque murcham, menina... E o que é que tem de romântico oferecer a alguém, como prova do nosso amor, algo que é muito bonito ao início mas ao fim de uns poucos dias perde a cor, as pétalas caem uma a uma até que acaba por se desfazer e ter de se mandar para o lixo?


Um comentário:

Plasticine disse...

E tinha razão. Eu prefiro que me ofereçam flores de papel ou um jardim, um vaso. Algo que não tivesse sido vivo e agora seja morto, como as flores arrancadas do seu meio...